todos os dias adotamos pessoas
Maus
tratos. Negligência. Famílias desestruturadas ou
destruídas pelo vício.
Discriminação de diversos tipos. Esses são apenas
alguns motivos que levam pais
a desampararem seus filhos. São razões diferentes que,
para essas crianças,
possuem o mesmo significado: abandono.
No
Brasil há 6.851 crianças e adolescentes aptos à
adoção. Do outro lado, quase 37.000 mil homens e mulheres
desejam adotar um filho. Se o número de pais dispostos
a dar um lar é cinco vezes maior que a quantidade de
crianças sem família, por
que ainda existe fila de adoção? Por que ainda ouvimos
relatos sobre longa
espera dos que estão na fila à espera de um filho?
As
casas de acolhimento estão cheias porque a imagem comumente
relacionada a elas
é a de bebês recém nascidos, saudáveis e,
geralmente, brancos. Esses tantos
homens e mulheres que estão na fila esperam porque, em grande
maioria, têm
exigências. Como se o processo de adoção não
fosse naturalmente delicado e
minucioso, algumas pessoas vão aos abrigos como se estivessem
indo ao
supermercado, em busca do produto perfeito para levar para casa.
Além disso,
existe a demora devido à burocracia envolvida no processo de
adoção. As
comarcas possuem poucos profissionais preparados para analisar os
processos, o
que atrasa ainda mais o sonho dessas crianças de ter uma
família.
A
cada
dez pais que desejam adotar, nove exigem faixa etária de
até cinco anos.
Enquanto 85% dos pais se concentram nas regiões Sul e Sudeste,
as regiões Norte
e Nordeste possuem a maior quantidade de crianças que
“cumprem” esses
requisitos. Esse tipo de exigência se torna um empecilho,
já que, de cem
crianças, apenas nove possuem menos de cinco anos.
Já os que aceitam crianças negras, pardas ou
indígenas costumam ser mais
flexíveis e geralmente não fazem outros tipos de
restrição quanto ao sexo ou à
idade. Os que buscam crianças mais velhas tampouco costumam
fazer quaisquer
exigências.
Esses
dados revelam os mitos e tabus acerca da adoção. Quanto
às exigências raciais,
nota-se o preconceito encubado, disfarçado, como se para adotar
uma criança,
ela precisasse possuir a mesma cor dos pais para ser aceita pela
família e pela
sociedade. Como se, ser de uma cor diferente a impedisse de ser
realmente
integrada ao lar, porque a cor seria um lembrete constante de que
não há laços
de sangue envolvidos. Adotar é um processo de dentro para fora,
e não o
contrário. O desejo de ter uma família e acolher uma vida
deve ser maior do que
a necessidade de satisfazer o desejo pessoal de ser pai. Adotar somente
com
esse intuito é uma espécie de egoísmo que acaba
refletindo nesse tipo de
exigências. Quer dizer, você sonha em ser pai, mas o que a
criança aparenta é
mais importante do que ela possa se tornar em sua vida e você na
dela.
Para
as
exigências de faixa etária, é dada a justificativa
de que seria mais difícil
educar uma criança mais velha. Em pesquisa realizada por Levy e
Féres-Carneiro
(2001), foi verificado que os pais que optam por crianças com a
menor idade
possível, na verdade têm o desejo de apagar a
história passada da criança e
cancelar qualquer herança genética que venha interferir
no processo de
formação. Logo, quanto mais velha ela for, mais bagagem
terá e mais difícil
será a adaptação entre pai e filho.
Weber
(2003)
realizou uma pesquisa com pais e filhos adotivos de todo o Brasil e
constatou
que a idade avançada no momento da adoção
não é fonte de problema. Ebrahim
(2000) sustenta que a adoção de crianças maiores
é totalmente viável e que seu
sucesso depende de fatores como a história da criança, o
fato de ela desejar ou
não ser adotada e, principalmente, da atitude dos pais adotivos
para com ela.
As
casas de acolhimento só irão esvaziar e esses mais de
vinte e oito mil pais só
irão realizar seus sonhos quando houver uma mudança no
pensamento e na atitude
de todos os brasileiros. É preciso destruir barreiras, erradicar
preconceitos e
perceber que adoção não é caridade e
não deve ser feita por um capricho. Uma
criança não entrará num lar para tentar apagar as
mágoas de pais que não
puderam ter filhos biológicos, e sim para ser igualmente amada.
A espera dos
pais é equivalente às suas prioridades: quanto mais
importante for a aparência
ou a idade, maior é a demora de levar seu filho para casa.
Todos
os dias adotamos pessoas que não tem nosso sangue e já
possuem história.
Amigos, cônjuges, pessoas que aceitamos amar independente de
qualquer
obstáculo. Que seja assim com a adoção
também..
Wander Barbosa Advogado | Direito de Família e Sucessões
www.wanderbarbosa.adv.br